Trata-se de uma premissa boa, pois pode explorar um lado político/ideológico capaz de engrandecer a obra. Mas, tal argumento mostra-se extremamente inválido devido ao fato de que o roteiro não se preocupa com desenvolvimento de conflitos. É muito tempo gasto em combates físicos, romances clichês, que o espectador se vê até mesmo entediado. A história central não apresenta força suficiente para se sustentar sozinha e, devido a oscilações narrativas, colapsa no final, com uma quantidade absurda de furos no roteiro. Algumas situações simplesmente não apresentam explicação plausível e o roteiro não se preocupa em apresentar qualquer argumento. Talvez a necessidade do estúdio de apresentar um universo compartilhado bem definido limitou muito o poder de criação dos roteiristas David Goyer (trilogia "O Cavaleiro das Trevas") e Chris Terrio ("Argo"). Mas, mesmo tal universo não é muito bem explorado. O novo Batman não apresenta nada de inovador ao personagem e se mostra muito aquém do personagem dos filmes do Nolan. A Mulher Maravilha é extremamente subaproveitada e seu desenvolvimento é raso (tudo bem que o filme solo já foi anunciado para o ano que vem, mas não custava nada dar ALGUMA profundidade à personagem).
A direção é de Zack Snyder. Trata-se de um diretor bem estiloso, que mostrou bom trabalho em "300" e "Watchmen", destacando-se pelo uso constante de câmera lenta e muito sangue. A censura do filme limita um pouco o último quesito (no Brasil, a classificação é indicativa é de 12 anos). Mesmo que a violência esteja presente, ela é muito irreal, por não ser explícita. Além disso, o diretor de "Batman vs Superman" não é o Zack Snyder que conhecemos. Sua ousadia em planos de câmera lenta e a astúcia para combates corpo a corpo são inexistentes. O trabalho de direção é extremamente convencional, para não dizer ruim. Existem muitas cenas demasiadamente longas, enquanto outras apresentam cortes demais. O espectador é inundado com um festival de "flares" e luzes que dão dor de cabeça e a movimentação de câmera é extremamente artificial. A cena principal de luta lembra muito as "cut scenes" do jogo "Injustice". Isso é uma grande crítica, pois distancia cada vez mais o público da veracidade daquele universo. É triste se deparar com tamanha decepção, um mês depois da grata surpresa "Deadpool". A Marvel que há muito domina o mercado, precisa se preocupar com a própria Marvel em outros estúdios. Parece que a DC não sabe ainda para o que veio.
Henry Cavill retorna bem como o Filho de Krypton, apresentando um amadurecimento do personagem. Gal Gadot, com o pouco tempo que lhe é dado, demonstra ser uma atriz com potencial para apresentar a imponência da Rainha das Amazonas. Já Ben Alffeck... Talvez uma das contratações mais rechaçadas pelos fãs devido a sua pífia atuação no filme solo do "Demolidor". Aqui, Affleck apresenta evolução, mas não é o retrato verdadeiro do Batman. Michael Keaton nos filmes de Tim Burton apresentava um charme único que combinava com o personagem, enquanto Christian Bale apelava para a carga emocional. Ben Affleck não apresenta nenhuma característica em sua atuação que mereça ser destacada. Apesar de não ser uma atuação ruim, esperava-se mais. Afinal, estamos falando do Batman, um dos personagens mais importantes da história dos quadrinhos. Mas, com certeza, o ponto mais exagerado do longa é Jesse Eisenberg como Lex Luthor. O ator apresenta uma espécie de Mark Zuckerberg misturado com o Coringa de Heath Ledger. Trata-se de um desenvolvimento extremamente caricato e superficial, pautado em maneirismos e clichês de um vilão megalomaníaco.
Um ponto que estragou muito a experiência cinematográfica foi a divulgação em demasia da história. Os dois trailers principais fazem um resumo perfeito do filme inteiro. Mas, a função do trailer não é ser um resumo, mas sim um fator que instigue o espectador a assistir ao filme. Pontos de virada da história foram mostrados no trailer e estragaram totalmente a surpresa na sala de cinema. Provavelmente, os executivos da Warner não acompanharam o processo de divulgação do novo "Star Wars" ou até mesmo do já citado "Deadpool". A trilha sonora do filme é defeituosa, emitindo melodias dissonantes extremamente desnecessárias. Percebe-se a falta de um tema musical grandioso capaz de ser a altura da trilha do filme de 78 do Superman. A trilha de Hans Zimmer só funciona quando a música já presente no primeiro filme retorna. Não é um tema brilhante, mas cumpre seu papel. Por incrível que pareça, o bom "O Homem de Aço" é infinitivamente mais completo que seu sucessor, mesmo se tratando de uma história de origem. O encontro dos dois heróis mais importantes do mundo é marcado por roteiro furado, direção cansativa e elementos cinematográficos que colocarão "Batman vs Superman" em esquecimento.
Nota
- Demolidor
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