domingo, 28 de fevereiro de 2016

Crítica de "O Quarto de Jack"

Como seria a sensação de descobrir o mundo para alguém que somente o viu pela televisão? Alguém que passou toda a sua vida dentro de um quarto, sem contato com a vida exterior? O filme trata exatamente dessas descobertas da realidade na vida de um menino de 5 anos chamado Jack (Jacob Tremblay). Sua mãe Joy (Brie Larson), foi sequestrada com 17 anos e trancafiada num quarto, onde deu luz ao garoto. Ambos eram proibidos de sair do quarto e praticamente só conviviam com um ao outro. Mas, o que o filme tem que chamou tanto a atenção dos espectadores? Primeiramente, o tema central tem uma forte intertextualidade com o mito da caverna de Platão. Mas, sem entrar no viés filosófico, o filme apresenta uma releitura dessa história, mostrando como um menino que não conhece nada do mundo exterior fica maravilhado ao ver coisas simples do cotidiano. E isso serve como uma grande crítica a sociedade atual, visto que, muitas vezes, a cultura extremamente imediatista nos deixa enclausurados em nossos próprios mundinhos, e esquecemos de dar valor as coisas que realmente importam.

O roteiro é de Emma Donoghue, adaptado do livro da própria. É um roteiro muito consistente, apesar de apresentar ritmo lento em certos momentos. Além da intertextualidade evidente já citada, o longa também retoma clássicos da literatura para dialogarem com a ação. "O Conde de Monte Cristo" e "Alice no País das Maravilhas" possuem trechos citados durante o filme que fazem rimas extremamente bem orquestradas. Mas, o que realmente segura o filme, é o desenvolvimento dos personagens e, principalmente, da relação entre eles. O amor entre mãe e filho é muito verossímil, pois o texto consegue apresentar conversas extremamente íntimas, mesmo que não apelem para o clichê. Uma mera conversa ao acordar já é capaz de mostrar ao público a relação de simbiose entre Jack e Joy. E isso tudo só é possível devido aos dois grandes atores principais. Brie Larson está excelente em seu papel, demonstrando uma evolução durante o filme impressionante. Todos os conflitos dá personagem são extremamente bem resolvidos, assim como todas suas angústias e preocupações são bem expressas em tela. Trata-se de uma atuação muito visceral, talvez a melhor de sua carreira até o momento. Mas, o destaque do elenco é o ator mirim Jacob Tremblay. Com apenas 9 anos, Jacob apresenta muito potencial artístico. O menino consegue dar traços ao seu personagem e conduz o filme de uma forma extremamente tranquila, sem exageros em momento algum. Por ser o protagonista da história, muito recai sobre ele, porém a entrega do ator ao personagem é notável.

Sabe quando um diretor não é muito notado durante o filme? Quando ele deixa o egocentrismo de lado e se preocupa mais com a obra do que com a persona por trás dela? Lenny Abrahamson ("Frank") faz exatamente isso. Não é uma direção muito inventiva em relação a planos e enquadramentos, porém o diretor tem um olhar detalhista muito oportuno. As cenas filmadas no quarto, por exemplo, são extremamente bem ambientadas e dão uma sensação nítida de claustrofobia. Além disso, nessas cenas, a fotografia funciona bastante e, como o quarto é muito explorado, o design de produção em cena é extremamente minimalista. Isso contribui para a imersão no filme, pois o ambiente é extremamente crível. Claro, o filme explora muito o drama de sua história, porém este não é muito sensacionalista. A experiência de assistir "O Quarto de Jack" é agradável, principalmente pela mensagem por trás de toda aquela história. A trilha sonora funciona bastante nos momentos de virada do filme, conseguindo acrescentar emoção, tensão e alívio. É isso que uma trilha precisa fazer: servir ao diretor da melhor forma possível. Mesmo com músicas não muito marcantes, o resultado é satisfatório.

O filme é narrado por Jack em alguns momentos. É extremamente tocante ver como são as constatações do menino em relação a suas descobertas. Misturando elementos imaginários e reais, o retrato de Jack do mundo é profundo e extremamente palpável. E, além disso, o filme trata um assunto muito sério: o sequestro. Mesmo não sendo uma história real, sabe-se que essa situação realmente acontece no mundo inteiro. E o filme acerta ao fazer uma denúncia dessa realidade cruel sob o olhar de uma criança. "O Quarto de Jack" é extremamente metafórico e reflexivo, podendo ser considerado um contundente instrumento de denúncia da realidade e motor de transformação social.

Nota: 

- Demolidor

Um comentário:

  1. É um filme excelente, a história é mais que bela. Eu gosto muito de Jacob Tremblay. Ele é um ator incrível. O papel que realizo em a Refém Do Medo é uma das suas melhores atuações, a forma em que vão metendo os personagens e contando suas historias é única. Na minha opinião, este foi um dos mehores filmes suspense 2016 que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. Jacob Tremblay esta impecável. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções.

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