terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Crítica de "Creed: Nascido para Lutar"

Um homem que veio do nada. Simples, conseguiu tudo que tem através do esforço e da superação, mesmo que, muitas vezes, as probabilidades não apontassem a seu favor. Estou falando de Rocky Balboa ou Sylvester Stallone? A franquia do boxeador mais famoso do mundo começou exatamente 40 anos atrás com o filme "Rocky - Um Lutador". Aclamado pela crítica e sucesso de audiência, o filme conquistou 3 estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme e melhor direção. Talvez seja tão amado pelo fato de Rocky representar o típico "sonho americano", um imigrante que tenta a sorte na América. Foi o filme que lançou Stallone no estrelato e existem muitas relações entre o ator e o personagem. Pode-se dizer que um é o alter-ego do outro e que cada frase que Balboa pronuncia está evocando reais pensamentos de Stallone. Como não lembrar do eternizado discurso do sexto filme? "Ninguém baterá mais forte que a vida...". É notável como tudo que o Rocky representa se encaixa perfeitamente com seu intérprete. E é isso que faz a franquia ser tão querida: o esforço do ator. Eis que chega um sétimo filme com o personagem, mas uma diferente franquia. No longa, Adonis Johnson (Michael B. Jordan), filho de Apollo Creed, vai para a Filadélfia ter aulas de boxe com Sylvester Stallone, em busca de provar a si mesmo suas virtudes e entrar no mundo profissional do boxe.

O roteiro é de Aaron Covington e Ryan Coogler. Em termos de narrativa, se assemelha muito ao primeiro filme. Apresenta os mesmos traços e desníveis dramáticos que acompanham a jornada do "herói". A apresentação do universo, o começo entre as relações dos personagens, crises, conflitos e o clímax. Mas, mesmo sendo tão parecido, o roteiro tem um quê de original. Apesar do filme de 1976 ser um ícone, não é perfeito. Lá, Adrian, o par romântico, não foi muito bem explorado. Aqui, porém, existe uma evidente preocupação do roteirista em dar profundidade aos personagens, desenvolvendo também suas limitações para serem vencidas. Afinal, o filme trata exatamente disso. Todo mundo tem uma luta a vencer, um obstáculo para ultrapassar. Uns lutando boxe, outros em rumo do estrelato da música, outros em batalhas comuns do dia a dia; no final todos só tem um objetivo: dar o melhor de si. E, como o próprio Rocky diz, o resultado é consequência. E é isso tão bonito no filme, as mensagens de incentivo e otimismo que inspira. Balboa foi criado para ser um treinador. Tudo que ele fala faz completo sentido não só para o mundo da luta, mas também para o mundo real. Isso demonstra um trabalho carinhoso do roteiro em apresentar diferentes camadas emocionais a fim de genuinamente prender a atenção do espectador e, até mesmo, emocionar. Pode-se dizer que trata-se de um roteiro que mesmo não sendo ousado, consegue cumprir sua proposta e servir bem à história. Além disso, existem algumas referências marcantes aos filmes antigos do Garanhão Italiano e, até mesmo, a outros filmes como "O Poderoso Chefão" e "007 - Operação Skyfall" que se apresentam como um "fan service", visto que não tem peso para a história, mas são uma homenagem honrada aos fãs.

A direção é de Ryan Coogler. O jovem diretor já havia trabalho com Michael B. Jordan no ótimo filme independente "Fruitvale Station: A Última Parada". Trata-se do quesito onde o filme brilha. Provavelmente Coogler já é o melhor diretor que a franquia teve. Através de técnicas apuradas e praticidade, o diretor entrega uma excelente obra. Existe uma cena específica de luta que o diretor usa um plano-sequência de longa duração que é puro cinema. A câmera se movimenta de acordo com a movimentação dos lutadores, mostra a plateia, os treinadores, retorna a luta. Tudo isso sem nem um corte, com uma leveza de movimentação impressionante. Em outras cenas de luta, o diretor usou o artifício do corte rápido que também funciona muito bem e dá agilidade ao combate. A junção entre esses dois métodos de filmagem resultou em cenas incrivelmente arquitetadas e executadas. Tudo isso foi muito ajudado por uma nova trilha sonora envolvente, músicas encaixadas nos momentos certeiros, além de uma sonoplastia perfeita em relação aos socos e pancadas. A mixagem e edição de som estão perfeitas e contribuem para uma maior autenticidade da direção. Além disso, o trabalho de edição e montagem é praticamente impecável. Isso é um grande avanço para a franquia, visto que nunca em filmes do Rocky existiu tamanha qualidade técnica na direção. As cenas de luta, que são o ponto forte do filme, parecem retiradas de uma luta real transmitida pela ESPN. Simplesmente fantástico.

Todo esse árduo trabalho de direção e roteiro foi muito bem acompanhado pelo elenco. Michael B. Jordan apresenta muito carisma e muita capacidade como ator. O jovem vem se mostrado talentoso e tende a evoluir. Tessa Thompson também merece destaque ao interpretar Bianca. Mas, o grande astro, que faz esse filme existir é Sylvester Stallone. É sabido por todos que artisticamente falando, Stallone nunca foi um excelente ator; sempre venceu no carisma. Mas, o filme parece tão bem encaixado, que até mesmo o grande Sly consegue prover uma atuação digna, que realça bem os sentimentos do personagem, sem deixar a força bruta falar mais alto. Muitos podem dizer que foi um exagero ele ter ganhado o Globo de Ouro por melhor ator coadjuvante, mas, uma coisa é certa, Stallone mereceu. Não por esse trabalho, nem por qualquer outro que já teve. Mas por tudo que ele fez para o cinema, todas as pessoas que ele inspirou ao criar o mitológico Rocky Balboa. Afinal, o cinema também pode possuir um papel inspirador. E isso ninguém pode tirar de Stallone, portanto já era hora de seu trabalho ser reconhecido. Mais uma grata surpresa no ano de 2016, o filme consegue resgatar suas raízes, ao mesmo tempo que apresenta um novo arco passível a continuações. Nesse quesito, o filme lembra muito "Star Wars - O Despertar da Força". Isso demonstra que essa fórmula pode dar certo, pois ambos os filmes não são remakes, são apenas continuações com novos núcleos de personagens. "Creed - Nascido para Lutar" apresenta como destaque sua cinematografia praticamente impecável, que torna o filme a melhor obra já feita com Rocky Balboa.

Nota: 

- Demolidor

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