quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Crítica de "No Coração do Mar"

"Moby Dick" é um clássico incontestável da literatura mundial, sendo até considerado "a epopeia oficial dos Estados Unidos". Como não conhecer a imensa cachalote branca ou até mesmo Ismael? Bem, como todo romance, trata-se de uma história fictícia. Mas, o que poucos sabem, é que o livro foi inspirado nos fatos reais ocorridos com a tripulação do baleeiro Essex. Por meio de um diálogo entre Herman Meville (escritor de "Moby Dick") e Tom Nickerson (tripulante do Essex), o filme apresenta a história original que inspirou um dos mais reconhecidos livros da história americana.

O grande problema do filme é a ambição e até mesmo a falta dela. Trata-se de um ambicioso projeto, visto a importância de "Moby Dick" para a cultura estadunidense, porém tudo no filme é muito passivo. Não existe um elemento narrativo que permanece fixo durante todos os atos, apenas alguns arcos esporádicos que apresentam um possível momento de tensão, mas que são suprimidos rapidamente. Ora, uma história épica dessas (do jeito mais literal da palavra) apresenta um grande potencial dramático e conflituoso. Com salvas exceções, a maioria dos personagens não apresenta empatia alguma. Além disso, a baleia, que é o principal motor da história, não apresenta peso algum. O mínimo que se esperava era uma tensão perante ao monstro desconhecido como é espetacularmente feito com o Tubarão, de Spielberg. A cachalote, porém, que deveria ser tão imponente, não se diferenciou muito das outros baleias presentes no filme e isso impediu o desenvolvimento de quiçá, o personagem mais importante da história. A grande questão do filme é o homem desbravando o desconhecido para o acúmulo de riquezas, mas é impedido pela insignificância humana perante aos elementos da naturezas. A baleia que deveria ser o símbolo dessa superioridade natural não teve tanto peso assim, o que prejudicou a mensagem por trás do longa.

Mas. nem tudo é ruim. A direção do experiente Ron Howard é segura e bem feita. O navio é muito bem explorado visualmente, visto que a câmera passeia por todos os compartimentos do baleeiro com uma fluidez impressionante. Além disso, o contraste que as tomadas fazem entre o navio e o mar são significativos, levando em conta o embate entre homem x natureza, durante o auge da Segunda Revolução Industrial, onde a natureza era tratada apenas como fonte de matéria-prima. A fotografia é exuberante, relembrando por alguns momentos "As Aventuras de Pi". A trilha sonora é condizente com o ritmo do filme e a mixagem e edição de som são perfeitas. A ambientação do filme (metade do século XIX) é muito condizente com o período histórico ao qual se refere, o que contribui para uma total imersão do espectador.

Um dos aspectos interessantes do roteiro é a luta de classes, exemplificada pelo comando do navio. O capitão é George Pollard (Benjamin Walker) e o primeiro-imediato é Owen Chase (Chris Hemsworth). Apesar deste apresentar uma tremenda experiência em caça à baleia, Pollard é escolhido como capitão devido ao seu nascimento privilegiado. O roteiro, por meio de diálogos e suposições com traços dos atores, parece criticar a aristocracia da época, que somente se preocupava em aumentar seu poder, de modo até mesmo maquiavélico (Os fins justificam os meios). Esse embate entre os dois, porém não é muito explorado durante o filme. Chega um momento que os dois se afastam e parecem se tolerar, o que dificulta a possibilidade de um embate significativo para o clímax e de uma crítica social relevante aos privilégios familiares.

Os atores estão bem em seus papéis, mas nenhum merece realmente destaque. Hemsworth faz mais uma vez o papel de uma espécie de herói honrado que já virou marca de sua carreira. Sua atuação não é ruim, mas ele não demonstra nada novo. Talvez o grande destaque seja Cillian Murphy, que apesar do pouco espaço, consegue desenvolver uma relação afetiva interessante com o primeiro-imediato. A história, apesar de tudo, é bem conduzida até o final. Mas não é aquele filme marcante que o espectador lembra por meses. Talvez este seja o grande problema do longa. Com toda a expectativa alta devido a história do livro e a direção de Ron Howard, o filme decepciona. Não por ser ruim, mas por não mostrar nada de relevante em relação a história original e por não se propôr a criticar certos valores da época. Apesar de direção e aspecto visual imponentes, o filme decepciona por não acrescentar nada relevante a "Moby Dick" e por não apresentar um núcleo de roteiro consistente.

Nota: 

- Demolidor

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