quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Crítica de "Perdido em Marte"

Ridley Scott. O diretor britânico, se quisesse, poderia parar de fazer filmes hoje e seria considerado um dos maiores da história. Isso porque ele é responsável por clássicos da ficção científica como "Alien - O Oitavo Passageiro" e "Blade Runner - O Caçador de Androides", além de diversos outros filmes excelentes como "O Gladiador" e "Falcão Negro em Perigo". O problema é que, atualmente, Scott tem se arriscado demais em gêneros desconhecidos e fracassado frequentemente. Um grande exemplo é o filme "Êxodo: Deuses e Reis" que foi um fracasso. Por que, então, o diretor não volta para seu lugar de origem que é a ficção científica? Foi o que ele fez. E ao fazê-lo mostrou que, nesse gênero, ele é difícil de se bater. O filme além de se tratar de uma ficção científica, também se enquadra no gênero de sobrevivência. Isso é arriscado, afinal nos últimos 2 anos o cinema contou com "Gravidade" e "Interestelar", filmes que abordam a ficção científica dessa mesma forma. Mas, "Perdido em Marte" conseguiu ser original e até mesmo superar esses já consagrados clássicos recentes.

O longa conta a história do astronauta Mark Watney (Matt Damon) que é acidentalmente deixado para trás numa missão em Marte. Usando de seus conhecimentos científicos, Mark precisa achar um jeito de se comunicar com a NASA e de garantir sua sobrevivência no "Planeta Vermelho". O grande mérito do roteiro é fugir do convencional. "Gravidade", por exemplo, apesar de ser um espetáculo de direção e efeitos, apresenta um roteiro muito clichê. Uma carga dramática muito intensa e a resolução dos problemas sendo feita sem uma explicação totalmente plausível. Enquanto isso, o novo filme de Ridley Scott dá uma profundidade imensa ao roteiro. Apesar de saber explorar os momentos dramáticos do protagonista, o longa é divertidíssimo. Parece que os roteiristas tiveram a ideia de ver na tragédia algo cômico e isso funciona perfeitamente. Traz um apego imediato ao personagem e em algumas cenas faz o espectador realmente rir. Para se ter uma ideia o filme apresenta referências a "O Senhor dos Anéis". É um filme essencialmente "nerd". Mas esse apego todo só é possível através de uma boa atuação. Afinal, o foco da trama se concentra em apenas um ator. Porém Matt Damon demonstra o grande ator que é. Desde as transformações físicas, as mudanças de semblante, até a leveza na interpretação são dignas de elogio. O ator consegue dar um quê de carismático ao personagem e, sem apelar tanto para o emocional, faz com que o público torça para que dê tudo certo. E isso é outro ponto forte do roteiro. Este é totalmente imprevisível. Existem problemas o tempo inteiro e toda vez parece que vai dar tudo errado. Mas a grandiosidade do "script" está na resolução desses arcos. Tudo que se apresenta no longa é cientificamente aceito e explicado de forma orgânica ao público. Assim, o filme se caracteriza como um grande incentivador da ciência, além de se tratar de uma bela obra de arte. Além disso, as intrigas políticas presentes no filme são muito bem boladas. Se um astronauta ficasse perdido no espaço seria preciso muita habilidade para lidar com as pessoas na Terra e para conseguir ajuda. E o filme explora muito bem esse lado, dando ênfase aos diretores da NASA e à divergência entre eles quanto a determinados assuntos. Devido a esses fatores, o filme configura-se como um retrato totalmente possível de uma realidade futurística.

A direção de Ridley Scott é pontual. Aliado com o roteiro de muitas reviravoltas, a experiência do diretor é essencial. Existem cenas que através do movimento da câmera o espectador se sente claustrofóbico, desesperado ou sozinho. Mas, durante boa parte da sessão, o público fica tenso. Parece que o clímax da história já é apresentado na primeira cena. A partir dali é impossível relaxar durante todo o filme. Mas isso não é uma coisa pesada, pois entre toda essa tensão estão momentos de comicidade e dramaticidade. A forma como Scott consegue balancear todas essas emoções e oferecer um filme extremamente digerível é fantástica. Aliás, o longa apresenta aproximadamente 2 horas e meia de duração, todavia em nenhum momento o espectador se sente entediado. Com um roteiro afiado e uma direção perspicaz, o filme nos introduz naquele universo de tal maneira que esquecemos a vida real. E, afinal, não é esse o papel do cinema? Ridley Scott demonstra que ainda está vivo e nos oferece uma direção que, sem sombra de dúvidas, está dentre as melhores de sua carreira.

Outro grande ponto forte do filme é o elenco coadjuvante. Apesar do tempo para eles ser escasso, enquanto estão na frente das câmeras demonstram os grandes atores que são. Alguns nomes de destaque são Sean Bean, Chiwetel Ejofor, Jeff Daniels, Michael Peña, Kate Mara, dentre muitos outros. Mesmo com Matt Damon dominando o longa, seu elenco de apoio é excelente. O visual de Marte é muito bem explorado. Os efeitos práticos superam os efeitos especiais, então o planeta não é tão artificial. E isso, mais uma vez, contribui para a possível veracidade do longa. A fotografia, por isso, é extremamente bonita, aliada com uma trilha sonora oportuna. Ridley Scott nos presenteia com uma ficção científica/sobrevivência com roteiro afiado, direção eficaz que possivelmente se tornará um clássico do século XXI devido a sua originalidade e sua aproximação com um futuro plausível.

Nota: 

- Demolidor

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