sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A filosofia por trás de "Into the Wild"

"Into the Wild". Filme americano de 2007, dirigido por Sean Penn. Indicado a 2 Oscar e muito bem avaliado em sites de cinema como o IMDB. Porém, infelizmente, não é um filme de que se ouve falar tão frequentemente. O filme conta a história de Chris, um jovem que foge de casa em direção ao Alaska, na busca de aventuras selvagens. Se mais da história for contada a experiência pode ser prejudicada. Trata-se de uma história real ocorrida na década de 90. Mas, por que "Into the Wild" é tão especial?

Primeiramente, o filme é um dos poucos da era moderna do cinema que consegue realmente mexer com as emoções e com os pensamentos do público. Não é um filme que se apresenta apenas como um divertimento, mas sim tem o desejo de deixar o espectador incomodado. Cada um acaba de ver o filme reagindo de uma forma, atribuindo tal personagem a tal pessoa com a qual se relaciona ou fazendo uma autorreflexão sobre os meios como os relacionamentos interpessoais estão sendo dirigidos. Apesar de apresentar uma premissa de solidão, um dos grandes pontos fortes do filme é explorar o relacionamento das pessoas que passam pela estrada de Chris. Dessa forma, o protagonista serve como uma espécie de narrador testemunha dos fatos apresentados. E, mesmo durante pouco tempo, existe uma identificação muito forte com todas aqueles personagens. O casal de "hippies" que demonstram a dor que o amor pode causar, mas ao mesmo tempo a união proveniente desse sentimento. A dureza de uma vida de um velho solitário que precisa se agarrar a alguém no presente para esquecer os fantasmas do passado. Nesse quesito trata-se de um filme muito rico em profundidade. O segredo dessa identificação toda é que o filme é extremamente humano e emocional. As relações são baseadas na verdade e por isso não são artificiais como se vê normalmente. O longa também apresenta questões importantes sobre a sociedade. O desejo de ser bem visto por todos, de conseguir uma ascensão social são ridicularizados por Chris. Valores como uma verdadeira amizade ou um prazer de tomar um banho num rio são os mais prezados no filme. São estes que realmente importam, que fazem alguém ser alguém de verdade. Afinal, o que vale possuir um belo diploma na faculdade, se não souber se relacionar com as pessoas? Se não entender a real importância da natureza. Esses diplomas e classes sociais são coisas extremamente fúteis perante a grandeza do espírito humano.

Dentre as inúmeras críticas sociais, uma é extremamente importante: a que se refere à família tradicional. É visível como uma família unida por laços não afetivos, mas sim convencionais está fadada ao fracasso. Dessa forma, uma criança que cresce em meio ao caos passa a não sentir identificação por um dos bens mais importantes na construção da moralidade de uma pessoa. E, por isso, precisa buscar em outros lugares uma forma de conforto, de alívio. Assim, começa a jornada de Chris. Uma autodescoberta de si mesmo, sem as mentiras impostas por sua família e pela sociedade no geral. Outro tema bastante abordado é a ideia de felicidade. E claramente esta não vem dos bens materiais, mas sim do contato com a natureza, das relações bem construídas e do amor em geral. O filme apresenta grupos não aceitos na sociedade padronizada como os hippies e os nômadas tendo uma vida muito mais feliz do que o padrão "correto". Isso nos faz pensar: "Será que eu realmente estou no caminho certo para a felicidade? Ou estou num caminho de felicidade ilusória?". É essa a relevância do filme: fazer com que cada um pense como está vendo o mundo e agir para mudar isso.

Portanto, o filme serve como uma grande crítica à alienação e aos valores sociais impregnados na sociedade atual, demonstrando que o verdadeiro amor e a verdadeira felicidade não dependem dos outros, mas sim de você e só você. "Into the Wild" pode ser considerado um "Clube da Luta" moderno, com questões atualizadas sobre escolhas da vida e relações interpessoais, mas tão profundo quanto e muito intenso ao mesmo tempo. A fotografia é simplesmente maravilhosa, uma explosão de cenários bonitos e a trilha sonora proveniente do álbum de Eddie Vedder é extremamente tocante. Mas o real motivo que deve motivar todos a verem esse filme é aquilo que tem de não convencional, a filosofia por trás do longa que mistura elementos de pensadores como Tolstoy com elementos da sociologia moderna e que fazem com que "Into the Wild" seja um grande estudo do psique humano.

- Demolidor

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