sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Crítica de "Sniper Americano"

Clint Eastwood. Com certeza, um dos diretores mais surpreendentes da história do cinema. Quem iria imaginar que aquele ator sem muito talento dos velhos filmes de faroeste poderia se tornar em um diretor tão profundo? Clint surpreendeu a todos, fazendo história no cinema moderno com excelentes filmes como "Menina de Ouro" e "Gran Torino". No gênero de guerra, Clint mostrou-se um diretor afiado a debater assuntos controversos, apresentando os dois lados da história nos filmes "Cartas de Iwo Jima" e "A Conquista da Honra". Um diretor que no auge dos seus 85 anos continua dirigindo e produzindo filmes dignos de premiações. Com essa bagagem inteira nas costas, chegamos a Sniper Americano. O filme conta a história de Chris Kyle (Bradley Cooper), o atirador de elite mais letal da história do exército americano que fez seu nome ao lutar na Guerra do Iraque.

Apenas pela premissa dá pra perceber que o filme é extremamente patriótico. Isso é um pouco decepcionante ao falar do diretor, que costuma apresentar as histórias de um modo imparcial. Aqui não existe nenhum momento que a guerra é criticada com clareza, e os americanos têm sempre a figura de um herói, enquanto os iraquianos são sempre os vilões. Como recurso do roteiro é um trabalho notável, pois o público consegue criar uma identificação com os personagens principais. Porém tratando-se de uma história real é uma manobra muito arriscada, pois muitas pessoas interpretarão a Guerra do Iraque como válida e apoiará os EUA. Esse é o principal fator que impede o filme de ser histórico: a política. O roteiro, aliás, descontando o patriotismo é fantástico. Consegue apresentar a história do protagonista sem enrolar muito e cria uma imagem heroica na qual o espectador se agarra rapidamente. Além disso, debate um tema constante na Guerra: o abalo psicológico dos soldados. O roteiro consegue apresentar isso numa forma muito clara, nas tomamadas de decisões e nas mudanças de comportamento que os personagens apresentam. É um tema que já foi mostrado em clássicos como "Apocalypse Now", mas é bem adaptado aos dias atuais.

A direção de Clint Eastwood é notável. As transições que ele usa de uma cena para a outra, o contraste de cores são artifícios muito usados pelo diretor. Além disso, Clint é um diretor muito detalhista e enfoca em alguns elementos interessantes. Existem duas cenas que o diretor foca em terroristas usando roupas de marcas americanas como "Nike" e "Adidas". Isso é um crítica implícita, e mostra como a guerra é mais comercial do que qualquer outra coisa. Clint porém, não se apresenta como aquele diretor notável devido a grande propaganda política que o filme é, mesmo mostrando-se um excelente diretor de cenas dramáticas (possivelmente o melhor da atualidade nesse quesito). A história de Chris Kyle com certeza é fantástica, mas o modo como foi passada para as telonas é americanizado demais. É até compreensível, afinal trata-se um filme americano sobre um herói americano, mas tratando-se de Clint Eastwood esperava-se algo mais.

Bradley Cooper é a grande surpresa do filme. Apesar de ter se mostrado um bom escolhedor de trabalhos nos últimos anos, sendo indicado a 3 Oscars seguidos, é aqui que Cooper faz valer suas indicações. O ator carrega o filme inteiro nas costas e sua atuação é fantástica. Ele capta o espírito caubói do personagem, usando de cacuetes da região, além de fazer um sotaque diferente. Fisicamente, Cooper se preparou bem e durante o filme convence como um militar de elite. Mas, onde o ator realmente surpreende são nos conflitos psicológicos, onde o ator consegue passar muita emoção. É perceptível como Bradley Cooper se entregou ao papel e realmente encarnou Chris Kyle. O elenco de suporte também está muito bem, mas o destaque sem dúvidas é Bradley Cooper.Trata-se de um excelente filme de guerra, com um personagem bem apresentado e interpretado. O grande problema do longa é a política por trás dele.

Nota: 

- Demolidor

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