segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Crítica de "Whiplash - Em Busca da Perfeição"

Jazz. Um estilo musical genuínamente norte-americano que faz parte da própria história do país. Atualmente, claramente, o gênero perdeu um pouco sua força. No século passado, por exemplo, os Estados Unidos foram berço de diversos artistas consagrados ao redor do mundo. Exemplos desses sucessos são Charlie Parker e Ray Charles. Ambos ganharam cinebiografias como "Bird" e "Ray". Para os fãs do jazz, os filmes foram interessantes para conhecer a história dos artistas e seguem um roteiro deveras premeditado. Chegamos então ao ano de 2014, onde somos apresentados a um novo filme sobre o jazz. Porém "Whiplash" traz uma temática totalmente nova e usa da música apenas como um consoante da revelação da verdadeira natureza humana.

O filme acompanha o jovem bateirista Andrew (Miles Teller) que é novato na melhor escola de música do país, o Conservatório Shaffer. Ele começa a fazer parte da orquestra comandada por Fletcher (J. K. Simmons) e lá sofre mais pressão e é incentivado sempre a atingir a perfeição. A primeira cena do filme é um quadro aberto num corredor e vai afunilando até nos apresentar o protagonista. Logo na primeira cena percebemos que o bateirista é empenhado e está se esforçando. Logo de início, Fletcher também aparece rebaixando e humilhando Andrew. Toda essa cena inicial já nos dá o tom que o filme vai tomar. Isso é um acerto muito grande do diretor, pois já estamos conectados na história desde o início.

O roteiro é bem escrito. Pode ser considerado monótono, por tratar apenas da luta de um aluno esforçado contra um professor tirano. Porém, o roteiro toma excelentes decisões que deixam o filme dinâmico. A construção dos personagens é incrível. Andrew, por exemplo, começa como o típico fracassado que não tem confiança em si próprio e aceita muito o que os outros pensam ou mandam. Porém, de acordo com o decorrimento do longa, o personagem vai ganhando personalidade e desafiando algumas coisas que ele nunca faria no início. Isso mostra um roteiro que desenvolve um personagem durante um filme apenas e faz com que o público "se orgulhe" por ele ter passado por todas essas provações e ter evoluído no final. Todo esse trabalho escrito é acentuado pela excelente atuação de Miles Teller que, como seu personagem, começa inseguro, mas vai evoluíndo durante o filme.

Mas, quem realmente merece destaque é o personagem Fletcher. No início o espectador sente um desgosto pelo personagem, até mesmo raiva. Conforme a história se desenvolve entendemos realmente a intenção do maestro. Na verdade ele não é uma pessoa má. Mas como diz num dos diálogos mais profundos do filme seu método de ensino não promove elogios, mas sim críticas que farão com que seu aluno tente superar mais e mais. O fato de seu ensino ter seus imensos defeitos por às vezes chegar a uma tortura emocional é indiscutível. Porém, através de pequenos detalhes do roteiro conseguimos compreender o porquê daquilo, concordando ou não. Esse personagem já foi uma grande sacada para o enredo, porém J. K. Simmons o engrandece mais ainda.

 O ator é o típico coadjuvante que todos conhecem de rosto, mas não sabem seu nome e nem reconhecem sua capacidade artística. Ele participa de grandes sucessos como a trilogia do Homem-Aranha dirigida por Sam Raimi ou pela comédia "Juno". Nesses trabalhos, Simmons não é capaz de desenvolver seu talento, portanto não é muito reconhecido. Todavia, o trabalho em Whiplash merece aplausos. Simmons dá seu próprio toque ao personagem e passa uma emoção por trás daquele homem metódico e extremamente perfeccionista. O ator consegue fácil roubar a cena durante o filme todo e sua atuação durante todo o longa é admirável. O inusitado é ele ser reconhecido por trabalhos como esse, projetos pequenos sem muita perspectiva que demorou pouco para ser gravado, do que em grandes obras Hollywoodianas.Isso reforça a ideia de que muito talento possa estar sendo subjulgado e até mesmo desperdiçado em Los Angeles. Uma prova de que seu atual trabalho merece destaque foi que o ator ganhou merecidamente o prêmio do Globo de Ouro por melhor ator coadjuvante. E o Oscar vem aí...

A direção (assim como o roteiro) é de Damien Chazelle. Ele escreveu o roteiro do filme "Toque de Mestre" anteriormente, mas não tem uma carreira conhecida. Esse é seu grande trabalho. A direção é o destaque. Damien usa de tomadas até mesmo sufocantes para contar a história. Existem cenas que a câmera poderia muito bem ficar parada sem que nada acontecesse. Porém, o diretor faz movimentos velozes com a câmera focando nos olhares dos personagens e isso causa uma tensão impressionante. A cena escrita não era suposta de dar tanta tensão assim, porém com uma direção afiadíssima Damien consegue superar seu próprio roteiro e deixa o filme mais interessante de ser assistido.

O longa consegue ser apreciado até por aqueles que não são muito por dentro do jazz. Eu, por exemplo, não sou muito conhecedor. Porém, o longa além de apresentar uma bela história, faz com que o público se interesse pelo gênero. Além disso, apresenta métaforas interessantes como: O que é mais importante: o talento ou a dedicação? A resposta não é dada, mas percebemos que Damien Chazelle possui os dois ao realizar Whiplash. Único, sarcástico, dramático. Uma bela surpresa. O filme apesar de excelente, definitivamente não é uma obra-prima e talvez venha a ser esquecido pelo público geral. Uma pena, pois "Whiplash - Em Busca da Perfeição" mostra que o cinema artístico e o que entretém podem estar interligados em uma só obra.

Nota: 

- Demolidor

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